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Caderneta Predial

Caderneta Predial – Tudo o Que Precisa Saber

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Rui Esteves

A Caderneta Predial. Toda a gente já ouviu falar dela, sabe que é precisa, mas surgem sempre as perguntas: O que é exatamente? Para que serve na prática? Como é que a consigo obter?

Se estas questões lhe soam familiares, então este guia foi feito a pensar em si.

Preparei uma análise completa mas, acima de tudo, descomplicada sobre a Caderneta Predial, com foco nas necessidades de quem está a vender um imóvel em Portugal.

O meu objetivo é simples: quero que, no final desta leitura, se sinta totalmente confiante e esclarecido sobre a sua Caderneta Predial.

Acredite, ter a documentação correta e atualizada, como explico também no nosso guia sobre todos os documentos necessários para vender, é meio caminho andado para uma venda tranquila e bem-sucedida.

Vamos a isso?

O Que é Exatamente a Caderneta Predial? A Identidade Fiscal do Seu Imóvel

Caderneta Predial

A Caderneta Predial, seja ela “Urbana” ou “Rústica”, é um documento oficial emitido pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), ou seja, pelas nossas Finanças.

Qual é a sua principal função?

É identificar e caracterizar um imóvel para efeitos fiscais.

Este documento contém informações essenciais que permitem à AT saber onde fica o prédio, quais as suas características físicas (áreas, tipo), para que é utilizado (habitação, comércio), quem são os seus proprietários para efeitos fiscais e, muito importante, serve de base para calcular os impostos associados a esse imóvel.

Impostos como o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), que pagamos todos os anos, ou o IMT (Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis), pago por quem compra, dependem diretamente da informação aqui contida.

É, por isso, um pilar fundamental do nosso sistema fiscal imobiliário e um documento que acompanha a “vida fiscal” de qualquer propriedade em Portugal.

Caderneta Predial Urbana: O Documento Chave para Apartamentos e Moradias

Agora sim, vamos focar no documento que realmente lhe interessa enquanto vendedor de uma casa: a Caderneta Predial Urbana.

Como o próprio nome sugere, esta é a versão da caderneta que se aplica especificamente aos prédios urbanos.

O que são prédios urbanos para as Finanças?

São os edifícios destinados a habitação (como o seu apartamento ou moradia), a comércio, indústria ou serviços, portanto, quando falamos em vender uma casa, é desta Caderneta Predial Urbana que estamos a falar.

É importante distingui-la de outro documento essencial, a Certidão Permanente de Registo Predial.

Enquanto a Certidão Permanente, emitida pela Conservatória, foca na propriedade legal (quem são os donos perante o registo) e nos ónus (como hipotecas ou penhoras), a Caderneta Predial Urbana concentra-se na identidade do imóvel para as Finanças.

Nela encontramos detalhes como as áreas (bruta privativa e dependente), a tipologia (T1, T2, etc.), a localização exata segundo a matriz das Finanças (identificada pelo importante “artigo matricial”), a “idade fiscal” do imóvel (ano de inscrição na matriz) e um valor crucial: o Valor Patrimonial Tributário (VPT).

O VPT é o valor que a AT atribui ao seu imóvel para calcular impostos.

Percebe-se assim porque é que a Caderneta Predial Urbana é um documento absolutamente indispensável em qualquer venda de um apartamento ou moradia.

Vamos explorar a diferença em relação à Certidão Permanente um pouco melhor.

Caderneta Predial vs. Certidão Permanente: Não Confunda!

Caderneta Predial vs. Certidão Permanente

É muito comum haver alguma confusão entre estes dois documentos, por isso vale a pena reforçar as diferenças.

Ambos são essenciais e obrigatórios para a venda, mas têm finalidades distintas e são emitidos por entidades diferentes.

Pense assim:

Caderneta Predial Urbana:

  • Foco Principal: Informação Fiscal.
  • O que mostra: Características físicas (áreas, tipologia), localização fiscal (artigo matricial), quem são os proprietários *para as Finanças*, e o Valor Patrimonial Tributário (VPT).
  • Quem Emite: Autoridade Tributária e Aduaneira (AT / Finanças).
  • Para que serve na venda: Base para cálculo de impostos (IMI futuro do comprador, IMT e IS da transação), confirmação das características do imóvel pelo comprador.

Certidão Permanente de Registo Predial:

  • Foco Principal: Informação Jurídica e Registal.
  • O que mostra: Quem são os proprietários legais (titulares registados), a descrição do imóvel conforme o registo, e muito importante, se existem ónus ou encargos (hipotecas, penhoras, usufrutos, etc.).
  • Quem Emite: Instituto dos Registos e Notariado (IRN / Conservatória do Registo Predial).
  • Para que serve na venda: Comprovar quem tem o direito legal de vender e garantir ao comprador que o imóvel não tem “surpresas” jurídicas ou dívidas associadas que possam pôr em causa a sua propriedade.

Estes dois documentos complementam-se.

Para a escritura de compra e venda, o notário (ou conservador/advogado) vai precisar de ambos e vai verificar se a informação bate certo.

Por vezes, podem existir pequenas diferenças, por exemplo, nas áreas exatas, devido a critérios de medição diferentes ou a atualizações que foram feitas numa entidade e não na outra.

Se essas discrepâncias forem significativas, é algo que convém analisar e, se possível, tentar harmonizar antes de vender, para evitar questões.

Como explico no nosso guia sobre todos os documentos, ter ambos atualizados e consistentes é ideal.

Porque é a Caderneta Predial Tão Importante na Venda de um Imóvel?

Venda de Imóveis Herdados ou Recebidos por Doação em Oeiras

Já percebemos o que é a Caderneta Predial Urbana, mas porque é que ela tem tanto peso no processo de venda?

A sua importância é fundamental por várias razões muito práticas:

  • Obrigatoriedade Legal na Escritura: Comecemos pelo mais direto: a lei exige a apresentação da Caderneta Predial válida e atualizada para que a escritura pública de compra e venda possa ser realizada.

    Sem ela, o notário, conservador ou advogado responsável pelo ato simplesmente não poderá formalizar a transferência da propriedade.É um requisito legal incontornável

  • Verificação pelo Comprador e Banco: Quem compra quer ter certezas.

    O comprador (e o banco que lhe possa estar a conceder crédito habitação) vai usar a Caderneta Predial para confirmar se as informações que você, vendedor, ou o mediador lhe deram sobre o imóvel correspondem aos registos oficiais nas Finanças.


    Isto inclui verificar as áreas (privativa e dependente), a tipologia (se é mesmo um T3 como anunciado), a existência de garagem ou arrecadação associada à fração, etc.


    Se houver discrepâncias significativas, isso pode gerar desconfiança e levar a mais perguntas ou até a entraves no negócio.


  • Base Essencial para o Cálculo de Impostos: A informação da Caderneta Predial, e em particular o Valor Patrimonial Tributário (VPT), é a base sobre a qual se calculam vários impostos importantes na transação e na posse do imóvel:
    • IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis): O comprador vai querer saber qual o VPT para poder estimar quanto pagará de IMI todos os anos após a compra.

      Um VPT mais baixo significa um IMI mais baixo.


    • IMT (Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis): Este é o imposto mais pesado que o comprador paga no ato da compra.

      A sua taxa incide sobre o valor da escritura ou sobre o VPT, dos dois o que for mais alto.


      A Caderneta é, por isso, essencial para a liquidação deste imposto.


    • Imposto do Selo: Também pago pelo comprador, incide 0,8% sobre o valor da transação (ou VPT, o maior) e também sobre o valor do crédito habitação, se houver.

      A Caderneta é necessária para apurar a base de cálculo.


      Pode saber mais sobre estes impostos no nosso Guia Fiscal sobre a Venda de Imóveis.


  • Identificação Fiscal Única do Imóvel: A Caderneta contém o artigo matricial, que é como o “número de contribuinte” único do seu imóvel na respetiva freguesia.

    Este número é fundamental para identificar o imóvel de forma inequívoca em todos os processos fiscais, notariais e de registo.


  • Gera Transparência e Confiança: Apresentar uma Caderneta Predial correta, completa e atualizada logo desde o início das negociações é um sinal de organização, transparência e seriedade da sua parte como vendedor.

    Isto facilita a análise por parte do comprador e do banco, agiliza todo o processo e ajuda a construir um clima de confiança mútua, que é essencial para um negócio bem-sucedido.


  • Confirmação da Titularidade Fiscal: A Caderneta indica quem são os proprietários registados nas Finanças e as suas quotas (se forem vários).

    É importante que esta informação esteja alinhada com a Certidão Permanente da Conservatória.

Resumindo, dar a devida atenção à Caderneta Predial desde o início é crucial.

Que Informações Contém a Caderneta Predial? Uma Análise Detalhada

Para que possa consultar a sua Caderneta Predial com confiança e verificar se tudo está em ordem, vamos “dissecar” as informações que ela normalmente contém.

Embora o formato possa variar ligeiramente, estes são os campos mais importantes que encontrará numa Caderneta Predial Urbana típica:

  • Cabeçalho: Aqui encontra a identificação do Serviço de Finanças que emitiu o documento e, muito importante, a data de emissão da caderneta que está a consultar.
  • Identificação do Prédio:
    • Distrito, Concelho, Freguesia: A localização administrativa exata do imóvel.
    • Artigo Matricial: Este é o número fiscal único do prédio (ou da fração) naquela freguesia (por exemplo, Artigo 5678).

      Se for um apartamento (fração autónoma de um prédio em propriedade horizontal), terá também a indicação da letra ou número que identifica a sua fração (ex: Artigo 5678 – Fração C).É este número que identifica o seu imóvel para as Finanças.

    • Localização do Prédio: A morada completa onde o imóvel se situa (nome da rua, número de polícia, andar/fração, código postal, localidade).

      Verifique se esta morada está correta e completa, pois é a morada oficial para efeitos fiscais.

  • Identificação dos Titulares: Esta secção lista quem são os proprietários do imóvel para as Finanças.
    • Nome: Nome completo de cada proprietário registado.
    • NIF: Número de Identificação Fiscal de cada proprietário.
    • Domicílio Fiscal: A morada fiscal registada de cada proprietário.
    • Quota Parte: Se o imóvel pertencer a mais do que uma pessoa (por exemplo, um casal, ou vários herdeiros), aqui indica-se a fração ideal que cada um detém (ex: 1/2 e 1/2; 1/3, 1/3, 1/3).

      É fundamental que os titulares e as suas quotas estejam corretos, refletindo a situação real da propriedade (atenção a heranças ou divórcios não atualizados!).

  • Descrição do Prédio:
    • Tipo de Prédio: Normalmente indica se é um “Prédio em Regime de Propriedade Horizontal” (para apartamentos) ou um “Prédio Urbano” (para moradias unifamiliares).
    • Descrição: Refere se o prédio é destinado a “Habitação”, “Comércio”, etc.
    • Número de Pisos: Quantos pisos o edifício tem, acima e abaixo do nível do solo.
  • Dados de Avaliação: Aqui encontra a informação sobre o valor fiscal.
    • Ano de inscrição na matriz: O ano em que o imóvel foi registado pela primeira vez nas Finanças ou o ano da última grande alteração/reavaliação que levou a uma nova inscrição.
    • Valor Patrimonial Tributário (VPT) Atual: Este é um dos valores mais importantes da caderneta.

      Indica o valor fiscal do seu imóvel, calculado pela AT com base nos critérios legais.A data a que este VPT se refere também costuma estar indicada.

    • Fórmula de Cálculo do VPT (Elementos): Frequentemente, a caderneta também mostra os elementos utilizados pela AT para calcular o VPT.

      Isto inclui a área bruta de construção, o coeficiente de localização (depende da zona), o coeficiente de qualidade e conforto (depende das características construtivas), e o coeficiente de vetustez (que reflete a idade do imóvel).Ver estes elementos pode ajudar a perceber se o VPT está ajustado.


  • Características da Fração Autónoma (específico para apartamentos):
    • Andar/Divisão: A letra ou número que identifica o andar e a sua fração específica nesse andar.
    • Tipologia/Divisões: O número de divisões assoalhadas (geralmente quartos e salas).

      A tipologia oficial (T1, T2, T3, etc.) deriva desta informação.


      Verifique se corresponde à realidade.

    • Afetação: O uso licenciado para essa fração (deve ser “Habitação”).

      Esta informação deve estar em conformidade com a Licença de Utilização.

    • Permilagem: A percentagem ou permilagem que a sua fração representa no valor total do prédio.

      Este valor é importante para calcular a sua quota-parte nas despesas do condomínio.


  • Áreas (em metros quadrados – m²): Este é outro ponto crucial e onde por vezes surgem dúvidas ou discrepâncias. A caderneta apresenta diferentes tipos de áreas:
    • Área Total do Terreno: Só relevante para moradias; é a área do lote onde a casa está inserida.
    • Área de Implantação do Edifício: A área que a base do edifício ocupa no terreno.
    • Área Bruta Privativa (ABP): Esta é, geralmente, a área mais relevante para apartamentos.

      Corresponde à área total da sua fração, medida pelo perímetro exterior das paredes, incluindo varandas privativas *fechadas*, caves e sótãos privativos com utilizaçãoidêntica à do edifício.


      É a área “útil” principal, usada em muitas avaliações.

    • Área Bruta Dependente (ABD): Refere-se às áreas cobertas de uso exclusivo, mas que se situam no exterior da fração (como varandas *abertas*, terraços acessíveis, garagens individuais, arrecadações em cave ou sótão).

Analisar cada um destes campos com atenção, comparando com outros documentos (Certidão Predial, plantas, Licença de Utilização) e com a própria realidade física do imóvel, é um passo essencial para garantir que tudo está conforme antes de colocar a casa à venda.

Como Obter a Caderneta Predial? (Passo a Passo)

Uma das boas notícias sobre a Caderneta Predial é que obtê-la é, hoje em dia, um processo bastante simples, rápido e, na maioria dos casos, gratuito, especialmente se usar a internet.

Vamos ver as duas formas principais de conseguir este documento essencial:

A Via Mais Rápida e Gratuita: Caderneta Predial Online (Portal das Finanças)

Esta é, sem qualquer sombra de dúvida, a forma mais recomendada, cómoda e eficiente de obter a sua caderneta.

Qualquer proprietário com acesso ao Portal das Finanças pode fazê-lo em poucos minutos.

Siga estes passos simples:

  1. Aceder ao Portal: Abra o seu navegador de internet e vá ao site oficial da Autoridade Tributária e Aduaneira: www.portaldasfinancas.gov.pt.
  2. Iniciar Sessão (Autenticação): No canto superior direito da página inicial, clique em “Iniciar Sessão”.

    Vai precisar de se autenticar.

    Pode usar uma das seguintes formas:

    • O seu NIF (Número de Identificação Fiscal) e a sua Senha de Acesso pessoal (a mesma que usa para entregar o IRS).
    • A sua Chave Móvel Digital (CMD), associada ao seu número de telemóvel ou Cartão de Cidadão.
    • O seu Cartão de Cidadão, utilizando um leitor de cartões smartcard ligado ao computador e os códigos PIN de autenticação do cartão.
  3. Navegar até aos Serviços de Imóveis: Uma vez dentro da sua área pessoal no portal, procure pelo menu principal (geralmente à esquerda ou no topo).

    Clique em “Serviços“.

  4. Encontrar a Secção “Prédios”: Dentro da longa lista de serviços, procure pela secção relacionada com “Prédios” ou “Imóveis”.

    Clique na opção “Consultar Património Predial“.

  5. Selecionar o Imóvel Correto: O sistema vai mostrar-lhe uma lista com todos os imóveis (prédios urbanos e rústicos) que estão registados em seu nome nas Finanças.

    Eles estarão identificados pelo Distrito, Concelho, Freguesia e pelo Artigo Matricial.


    Localize na lista o artigo matricial correspondente ao imóvel que pretende vender.

  6. Obter a Caderneta: Ao lado dos dados do imóvel que selecionou, encontrará um pequeno ícone ou um link com a palavra “Caderneta“.

    Clique nesse link.

  7. Descarregar o Documento PDF: O Portal das Finanças irá gerar automaticamente a Caderneta Predial Urbana atualizada para esse imóvel, em formato PDF.

    Poderá então visualizá-la diretamente no ecrã, guardá-la (fazer download) para o seu computador ou dispositivo móvel, ou imprimi-la se necessitar de uma cópia física.

Quais as grandes vantagens desta via online?

  • É Gratuita: Não tem qualquer custo associado pedir a caderneta online.
  • É Imediata: Obtém o documento em poucos segundos, sem demoras.
  • É Super Cómoda: Pode fazê-lo a qualquer hora do dia ou da noite, a partir de casa, do escritório, ou de qualquer lugar onde tenha acesso à internet.
  • Garante Atualidade: A versão que obtém online reflete sempre a informação mais recente disponível na base de dados da Autoridade Tributária naquele momento.

Obter a Caderneta Presencialmente nas Finanças

Se por alguma razão tiver dificuldades com a internet, não possuir as suas credenciais de acesso ao Portal, ou simplesmente preferir tratar do assunto presencialmente, continua a ser possível obter a caderneta predial dirigindo-se a um balcão da Autoridade Tributária.

  • Onde se Dirigir: Pode ir a qualquer Serviço de Finanças (Repartição de Finanças) ou a uma Loja do Cidadão que disponha de um balcão de atendimento da AT.
  • O Que Precisa Levar: É essencial que leve consigo o seu documento de identificação (Cartão de Cidadão ou BI + NIF).

    Para facilitar a pesquisa por parte do funcionário, é muito útil que saiba e indique o número do artigo matricial do imóvel e a respetiva freguesia onde ele se localiza.

  • Como Proceder: No balcão, identifique-se e solicite ao funcionário a emissão de uma Caderneta Predial (ou Certidão de Teor Matricial, como também lhe podem chamar) para o artigo matricial que pretende.
  • Possíveis Custos: Ao contrário da versão online, a emissão presencial da caderneta em papel pode estar sujeita ao pagamento de uma pequena taxa administrativa.

    Confirme o valor no local antes de pedir.

Em resumo, obter a caderneta predial é hoje um processo bastante facilitado, com a via online a destacar-se como a mais prática e eficiente para a maioria dos proprietários.

Consultar Caderneta Predial: Ler e Interpretar a Informação Corretamente

Caderneta Predial Urbana

O passo seguinte, e igualmente importante, é saber consultar a caderneta predial de forma eficaz.

Isto significa ler e interpretar a informação que ela contém, verificando se tudo está correto e atualizado antes de a partilhar com potenciais compradores, com o banco ou com o notário.

Ao analisar a sua caderneta, concentre-se especialmente nos seguintes pontos:

  • Titulares (Proprietários): Este é um ponto crítico.

    Verifique se o(s) nome(s) completos, os NIF(s) e as quota(s)-parte(s) (se houver mais do que um dono) dos proprietários que constam na caderneta estão exatamente corretos e correspondem à situação legal atual.É muito comum, por exemplo, após um divórcio ou uma herança, que os proprietários atualizem o registo na Conservatória mas se esqueçam de o fazer nas Finanças.Se a caderneta ainda estiver em nome do antigo proprietário ou com quotas desatualizadas, isso vai impedir a venda pelos atuais donos legais.Tem de corrigir isto primeiro!


  • Morada do Imóvel: Confirme se a morada completa do prédio (rua, número, código postal) está correta e sem erros.

    Isto é importante para a identificação correta do imóvel.


  • Áreas (ABP e ABD): Compare as áreas indicadas na caderneta (Área Bruta Privativa e Área Bruta Dependente) com as que constam na Certidão Permanente de Registo Predial.

    Verifique também se correspondem à sua perceção da realidade do imóvel.


    Como já referi, pequenas diferenças entre os registos das Finanças e da Conservatória são relativamente comuns (devido a critérios de medição históricos diferentes) e geralmente não causam problemas.


    No entanto, se encontrar discrepâncias significativas (muitos metros quadrados de diferença), isso deve ser investigado.


    Pode indicar um erro num dos registos ou, mais preocupante, a existência de obras (como marquises ilegais) que alteraram a área e não foram comunicadas.


    A Área Bruta Privativa (ABP) é frequentemente a mais utilizada para efeitos de avaliação bancária e comparação de mercado.


  • Tipologia e Afetação: Verifique se a tipologia (T1, T2, etc., baseada no número de divisões assoalhadas) e a afetação (o uso licenciado, que deve ser “Habitação”) que constam na caderneta estão corretas e correspondem à realidade física e legal do seu apartamento.

    Se a caderneta indica um T2 mas o apartamento foi transformado num T3 sem licenciamento, isso é um problema que precisa de ser resolvido.A afetação deve também estar de acordo com a Licença de Utilização.


  • Valor Patrimonial Tributário (VPT): Tome nota do VPT atual indicado na caderneta e da data a que se refere.

    Como vimos, este valor influencia diretamente os impostos (IMI, IMT, IS).Embora o VPT não seja o valor de mercado do imóvel (geralmente é bastante inferior), ele pode servir como um ponto de referência.


    Se achar que o VPT está manifestamente desatualizado ou incorreto face aos critérios legais (pode usar o simulador no Portal das Finanças para ter uma ideia), tem o direito de pedir uma reavaliação.


    Contudo, pense bem antes de o fazer perto da altura da venda: uma reavaliação pode resultar num VPT mais baixo, mas também pode resultar num VPT mais alto, o que poderia aumentar o IMI futuro e potencialmente o IMT a pagar pelo comprador.

Se detetar algum erro, omissão ou informação desatualizada em qualquer um destes pontos, é fundamental iniciar o processo de correção junto das Finanças o mais rapidamente possível, bem antes de chegar à fase da escritura.

Validade da Caderneta Predial: Mitos e Realidades

Quando uma Caderneta Predial é emitida (seja a versão online em PDF ou a versão em papel pedida nas Finanças), ela contém uma data de emissão.

Formalmente, para a maioria dos atos legais e administrativos (como instruir um processo de crédito, ou apresentar em tribunal), considera-se que este documento tem uma validade de 12 meses a contar dessa data de emissão.

Isto significa que, em princípio, para a escritura de compra e venda, uma caderneta emitida há menos de um ano deverá ser aceite pelo notário ou conservador.

A Importância Crucial da Atualidade da Informação:

No entanto, e este é o ponto mais importante a reter, para a segurança da transação imobiliária, mais crucial do que a data de emissão do papel é a garantia de que a informação que consta nessa caderneta está correta e reflete a situação fiscal real e atual do imóvel no momento da venda.

Pense nisto: de que adianta apresentar uma caderneta emitida há 10 meses, que tecnicamente ainda está “válida”, se nesse intervalo de tempo houve uma alteração de proprietário devido a uma herança, ou se as Finanças fizeram uma reavaliação geral que alterou o VPT, e essas mudanças importantes não estão refletidas nesse documento antigo?

Uma caderneta desatualizada nos seus dados, mesmo que emitida há menos de um ano, pode causar problemas.

A Minha Recomendação Prática:

Por uma questão de segurança, de transparência e para evitar quaisquer dúvidas ou questões por parte do comprador, do banco ou do notário, a minha recomendação é sempre a mesma: obtenha uma Caderneta Predial online atualizada numa data próxima à da celebração do Contrato Promessa de Compra e Venda (CPCV).

E, mais importante ainda, obtenha uma nova caderneta online muito perto da data agendada para a escritura final (por exemplo, na semana anterior ou mesmo 2-3 dias antes).

Uma caderneta “fresquinha” dá mais segurança a todos.

Problemas Comuns com a Caderneta Predial e Como Resolver

É bom estar ciente destas possibilidades para poder agir preventivamente:

  • Discrepâncias de Áreas (O Clássico): Este é, talvez, o problema mais frequente.

    Acontece quando as áreas que constam na Caderneta Predial (Finanças) não coincidem exatamente com as áreas indicadas na Certidão Permanente de Registo Predial (Conservatória), ou mesmo com uma medição real do imóvel.


    Porque acontece?


    Pode dever-se a critérios de medição diferentes usados pelas duas entidades em épocas distintas, a erros administrativos antigos, ou à existência de alterações (como marquises) que foram consideradas por uma entidade e não pela outra.


    Como resolver: Se a diferença for pequena (1-3%), geralmente não causa problemas.


    Pode ser necessário pedir uma retificação de áreas junto das Finanças (entregando o Modelo 1 do IMI com os dados corretos, por vezes acompanhado de plantas atualizadas) ou, em casos mais complexos, pode ser preciso um processo de harmonização dos registos nas Finanças e na Conservatória.


    Nestes casos, o apoio de um técnico (arquiteto, engenheiro) ou de um solicitador pode ser muito útil.


  • Titulares Desatualizados: Outra situação comum, especialmente após heranças ou divórcios.

    As pessoas tratam da partilha ou do registo na Conservatória, mas esquecem-se que também é preciso atualizar a titularidade nas Finanças.


    Resultado: a Caderneta continua em nome do proprietário antigo (ou com a composição do casal errada).


    Como resolver: É simples, mas tem de ser feito.


    Tem de se apresentar no Serviço de Finanças (ou submeter no Portal) a documentação que prova a alteração da titularidade (por exemplo, a Habilitação de Herdeiros, o Registo de Aquisição na Conservatória, a Escritura de Partilha, a Sentença de Divórcio).


    Com base nesses documentos, as Finanças atualizam o registo fiscal e emitem uma nova caderneta com os titulares corretos.


    Sem isto, quem consta na caderneta não corresponde a quem pode vender legalmente.


  • Valor Patrimonial Tributário (VPT) Desajustado: Por vezes, o proprietário considera que o VPT que consta na caderneta está desatualizado face à realidade do imóvel (por exemplo, muito alto porque o imóvel se degradou, ou muito baixo porque foi avaliado há muitos anos e o mercado mudou).

    Como resolver: O proprietário tem o direito de pedir uma reavaliação do VPT junto das Finanças.


    Isto faz-se preenchendo e entregando o Modelo 1 do IMI.


    As Finanças irão então proceder a uma nova avaliação completa, usando os critérios e coeficientes em vigor nesse momento (localização, qualidade, idade, área).


    Mas atenção: o resultado desta reavaliação é incerto.


    O novo VPT pode ser mais baixo (o que seria bom para o IMI), mas também pode ser igual ou até mais alto do que o anterior!


    Por isso, antes de pedir uma reavaliação perto da venda, pense bem nas possíveis consequências.


  • Erros na Descrição ou Morada: Podem existir erros menores, como a morada estar incompleta, a descrição da tipologia não ser exata, etc.

    Como resolver: Deve solicitar a correção destes dados junto das Finanças, apresentando documentação que comprove a informação correta (por exemplo, uma Certidão da Câmara Municipal com a morada oficial, plantas, etc.).


    Use também o Modelo 1 do IMI para estas correções.


Como Atualizar a Caderneta Predial?

Como vimos nos exemplos acima, a principal forma de pedir a atualização de informações na Caderneta Predial é através da entrega do Modelo 1 do IMI (Declaração para Inscrição ou Atualização de Prédios Urbanos na Matriz).

Este formulário pode ser preenchido e submetido de duas maneiras:

  • Online: Diretamente no Portal das Finanças (requer autenticação).

    Procure pela opção “Entregar Declaração Modelo 1 IMI”.


    Terá de preencher os campos e anexar digitalmente os documentos que justificam a alteração.


  • Presencialmente: Pode obter o formulário em papel, preenchê-lo e entregá-lo em qualquer Serviço de Finanças, juntamente com as fotocópias dos documentos de suporte.

Seja qual for a via, terá sempre de anexar ou apresentar a documentação que fundamenta a alteração que está a pedir (plantas para áreas, documentos de registo para titulares, certidões para moradas, etc.).

É importante ter noção de que o processo de análise e atualização pela AT pode demorar algum tempo.

Pode levar algumas semanas ou, em casos que exijam mais verificações, até alguns meses.

Não deixe estas correções para a véspera da escritura, pois corre o risco de não estarem concluídas a tempo!

Conclusão: A Caderneta Predial, Sua Aliada na Venda

E assim chegamos ao fim do nosso mergulho no mundo da Caderneta Predial Urbana!

Longe de ser apenas “mais um papel”, a Caderneta Predial é, como vimos, uma ferramenta essencial e uma verdadeira aliada no processo de venda do seu imóvel.

Ela é a identidade fiscal da sua propriedade, um elemento crucial para a transparência do negócio, para o correto cálculo de impostos (tanto para si como para o comprador) e para a segurança jurídica de quem compra.

Assim que tomar a decisão de vender o seu imóvel, um dos primeiros passos deve ser obter uma cópia online atualizada no Portal das Finanças.

Depois, analise-a com atenção.

Verifique se todos os dados – titulares, morada, áreas, tipologia, VPT – estão corretos e atualizados.

Se detetar qualquer erro ou informação que precise de ser corrigida, inicie o processo de atualização o quanto antes.

Lembre-se: ter toda a documentação correta e pronta desde o início evita muitas dores de cabeça, previne atrasos na escritura e evita que surjam questões que possam levar a renegociações de preço de última hora.

Pode encontrar mais dicas sobre todo o processo no nosso Guia Completo para Vender Apartamento.

Aqui na Prime Imobiliária, sabemos que lidar com toda a burocracia pode ser um processo desgastante e que lhe consome tempo.

O nosso compromisso é tornar a sua experiência de venda a mais serena, segura e eficiente possível.

Se ficou com alguma dúvida sobre a Caderneta Predial do seu imóvel específico, ou se gostaria de contar com o nosso apoio profissional e dedicado para vender a sua casa, não hesite em entrar em contacto connosco.

Estamos aqui para o ajudar a transformar o desafio da venda numa experiência positiva e bem-sucedida.

Rui Esteves

Sou o Rui Esteves.Dediquei os últimos 17 anos ao dinâmico mercado imobiliário, uma área que me apaixona genuinamente.Como broker da Prime Imobiliária, foco a minha atuação em ajudar diretamente proprietários nos concelhos de Oeiras, Cascais e Lisboa.Ao longo destes anos, acompanhei dezenas de processos de venda e percebi que, para além dos números e das estratégias, o mais importante é a confiança e a clareza.Sei que vender um imóvel é um passo significativo na vida de qualquer pessoa, muitas vezes carregado de emoções e dúvidas.Por isso, decidi aliar a minha experiência no terreno aos meus conhecimentos em marketing de conteúdo e SEO para criar este blog.O meu objetivo é simples: partilhar consigo, vendedor, informação prática, realista e atualizada, de forma descomplicada e humana, para que se sinta seguro e bem informado em cada etapa da jornada de venda.Aqui encontrará a perspetiva de quem conhece bem o mercado local e está genuinamente empenhado em ajudá-lo a alcançar os seus objetivos, com o profissionalismo de quem tem anos de experiência, mas com a proximidade e empatia de quem entende os seus desafios.Conte comigo e com a Prime Imobiliária para navegar este processo com mais tranquilidade e sucesso.

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